O grande ditador: um dos melhores discursos do cinema
- Gustavo Amaral
- 10 de mar. de 2023
- 3 min de leitura

"O Grande Ditador" é um filme icônico de 1940 dirigido e estrelado por Charles Chaplin. Este filme é um dos mais importantes da carreira de Chaplin, porque ele aborda temas como ditadura, guerra, fascismo e anti-semitismo em um momento em que a Segunda Guerra Mundial estava prestes a eclodir.
O discurso principal do filme ocorre no final, quando Chaplin, interpretando o personagem do barbeiro judeu que se passa por um ditador, faz um discurso emocionante que expressa sua esperança pela humanidade e sua crença na igualdade e na liberdade.
Assista aqui o discurso:
Transcrição do discurso:
"Desculpem-me, mas eu não quero ser imperador. Não é esse o meu ofício. Não quero governar ou conquistar ninguém. Gostaria de ajudar todo mundo, se possível, judeus, gentios, negros e brancos. Todos nós queremos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver pela felicidade do próximo, não pelo seu infortúnio. Por que odiamos e desprezamos uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos, nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximam-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem - um apelo à fraternidade universal - à união de todos nós. Neste mesmo instante, minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora - milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas - vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes.
Aos que me ouvem, eu digo: "Não desesperem!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais que vos desprezam, que vos escravizam, que arregimentam as vossas vidas, que ditam os vossos atos, as vossas ideias, as vossas sensações! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como carne para canhão. Não sois máquinas! Homens é que sois! E com amor da humanidade em vossas almas! Não odeiem! Só odeiam os que não se importam com a humanidade. Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade!
No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas de todos os homens! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo - um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho - que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm conquistado o poder, mas eles mentem! Eles não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém, escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!"
O discurso é uma crítica à tirania e à opressão, e uma chamada à ação para as pessoas se unirem em prol da liberdade e da igualdade. Chaplin usa o discurso para expressar sua própria visão de mundo e suas crenças políticas, e é uma declaração poderosa de que a humanidade pode superar as diferenças e viver em paz e harmonia.
Em conclusão, o discurso principal do filme "O Grande Ditador" é uma das declarações mais poderosas e inspiradoras sobre liberdade, igualdade e humanidade já feitas no cinema. Charles Chaplin usa o discurso para expressar suas crenças políticas e sua visão de mundo, e para fazer um apelo às pessoas para que lutem por um mundo melhor. É um discurso que continua a inspirar e a ressoar em todo o mundo, décadas depois de ter sido feito.
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